Esta história tem a idade do Johnny. Em julho de 2003. “Meu filho tinha acabado de nascer. Criei meu filho no Santo Grão”. E começou na cozinha da Oscar Freire. À noite. A Jaciene Conceição começou lavando as louças. E de lá, foi para a praça fria. “Precisava enrolar um bolinho e ninguém conseguia deixar do tamanho certo. Quando eu fazia, ficavam boas!”. Caso antigo com padrão, hein? E de saladeira, para a boqueta. “Era muita responsabilidade encarar o Marco e a Renata. E eu aceitei. Fui para manhã e eu me apaixonei”.
Corajosa. E marrenta. “Os pratos eram bonitos, mas fora do padrão. Foi difícil, não me respeitavam. Mas eu não conseguia deixar passar. Uma chef falou ‘Quem é você para voltar meus pratos? Você não sabe nem fritar um ovo’. E meu chão caiu, porque era uma verdade”.
Mas o ovo frito veio. Em um dia que faltou todo mundo. Até a chef atrasou. E precisavam abrir a cozinha… lá foi a Jaci. Fez arroz, feijão. Mas ia ficar só nisso? “Aí saiu um Stir Fry. Joguei tudo que eu lembrava, e o molho. O cliente voltou o prato”. Ela refez. Igualzinho. “Pergunta pro seu chef se ele sabe fritar um ovo”, o cliente perguntou e voltou o prato.
“Acho que fui inocente. Eu realmente fiz um ovo frito. E ninguém falou mais nada”. E o Stir Fry? “Agora é o prato que eu mais sei fazer. Depois dessa decepção, aprendi”.
“Inspirada na Fabiana, eu decidi estudar também”
E depois desse aprendizado? A Jaci foi conquistando espaço e respeito. E foi para praça quente. Mas também teve preocupação. “Ouvia que iam contratar só pessoas que tinham faculdade. E eu tinha um filho. Inspirada na Fabiana, eu decidi estudar também. “Aí o RH me deu muita força e me ajudava com metade da faculdade”.
Em 2008, a Jaci entrou. “Foram 4 anos difíceis. Eu não dormia. Passava muita fome. Eu saía 3h40 da minha casa para estar as 7h no Santo Grão. Saía 15h20 e ia direto para faculdade. E cadê dinheiro para comprar aquelas coisas caras?”. Chegando em casa meia noite. Tanto esforço gerou
estresse. Mas, também gratidão.
“O respeito foi uma conquista muito grande”
Quando estava concluindo os estudos, veio a ideia de Supervisora de Qualidade. “Aí fui buscando, estudando. Criando mesmo”. Entre pensar e executar, desafios para criar e explicar a função. “Aprendi bastante com o Pedro (que foi chef) sobre ser paciente. Às vezes, você tem que abrir terreno para conseguir entrar. Não chegar impondo. Isso melhorou meu relacionamento, principalmente no Itaim”.
E agora? “Hoje, é uma felicidade quando vejo Narcélio (subchef da Oscar) me pedir ajuda ou agradecer. O pessoal do Itaim fazer coisas para eu provar. O respeito que eles têm hoje foi uma conquista muito grande. Desenvolvimento pessoal”.
Para o futuro, ela quer ser mais sussa. Ter equilíbrio financeiro, morar em uma casa onde bata sol. E seguir estudando! “Quero continuar trabalhando com a Nutrição e fazer Psicologia. Eu sempre quis”.
“Só preciso que alguém acredite em mim”
De Master Chef para Inovação na Cozinha, ela acredita em fazer mudanças. Pontual. Sonhadora. E um passinho além disso. “O Marco perguntou o que vocês precisam para desenvolver um serviço bom? Jaci: eu só preciso que alguém acredite em mim. Ele virou para mim: ‘Tá bom, eu acredito em você’. Eu fiquei na dúvida, mas hoje eu acho que é verdade”.