Antes de passar ou falar alguma coisa, eu quero ser. Quero ser íntegro. Transparente. Nós falamos muito sobre ser íntegro. Acho que isso realmente traduz. Ser íntegro é muito próximo de ser transparente, né?”. Barista, gerente geral na Oscar, gerente geral em Curitiba, gerente da Comercial. O Fernando de Camargo Costa Dourado é o 2º fundador do Santo Grão.
Mas, bem antes disso… Nasceu em Santos. Começou a trabalhar com 14 anos no Mc Donald’s. Teve carrinho de pastel que trabalhava final de semana e depois da faculdade de Administração. E ainda um carrinho de suco de laranja, que vendia na praia. “Empreendedor, né?”.
“O que você achou do meu café?”
Então, o café. O Fernando abriu a cafeteria do Museu de Santos. Em menos de 3 meses se tornou barista, e gerente. Mas sabia que não ia parar ali. “Eu pensei, ‘um dia vai aparecer um louco aqui que vai acreditar em mim’. Apareceram o Marco e a Renata. Eu perguntei: ‘O que você achou do meu café?’. O Marco diz que essa é uma pergunta mestra, aberta. Abriu nosso diálogo”.
O diálogo subiu a serra. O Fernando se juntou a eles nos planos de abrir uma cafeteria. Nas folgas, ele subia de moto até São Paulo. “Como não tinha capital, eu não quis ganhar dinheiro até o negócio começar. Enquanto estava no planejamento eu vinha para cá em todas minhas folgas”. De setembro de 2002, foram 9 meses até o parto. Eles abriram as portas do Santo Grão em agosto de 2003. “Eu chegava cedo e ficava até de madrugada”.
“Aqui eu posso ser e mostrar quem sou”
Por que o Fernando escolheu há 15 anos, e ainda escolhe, o Santo Grão para se realizar? “Porque aqui eu posso ser eu. Mostrar quem sou, ser transparente até nas minhas fraquezas, posso até chorar”. Como se realizar? “Já vivi uma situação das pessoas falarem ‘enquanto estamos aqui, o Fernando está curtindo’. Eu cheguei e tive uma conversa frente a frente. Perguntei: essa cadeira que você está sentado, sabe quanto custa? E a manutenção dela? E este copo? Falei o preço de cada coisa. Abri para eles quanto estava sendo investido e quanto era o nosso lucro. Na época, o lucro ali era muito pequeno. Mostrei que só estávamos abertos porque acreditamos no Santo Grão e neles. Isso fez eles terem mais confiança”, contou. “Eu prefiro essa transparência. A equipe saber dos números, a real, fez eles valorizarem as coisas”.
Em meio a esses 15 anos de história, o Dourado já saiu do Santo Grão. Um ano longe. Um ano sabático para estudar inglês na Nova Zelândia. E café! “Eu falei: troco meu trabalho por conhecimento. Comecei 4 horas embalando e 4 horas provando café, aprendendo. Sem receber pagamento. Depois, eles gostaram e me convidaram para operar a máquina de torra, recebendo”. Mil quilos de café por dia.
Em 2007, o Fernando voltou ao Brasil. “Na Oscar Freire, falei: quero voltar como garçom. Ver como está a equipe. Entender o trabalho”. Só depois disso ele assumiu a gerência. “Essa transparência das coisas para mim é muito importante. E quando eu erro alguma coisa, aí eu tenho que ser transparente mesmo. Se eu me esconder, aí ferrou. Então, assumo o erro”.
Hoje, ele é gerente do Comercial de Cafés – que atende mais 300 clientes. “Com as vendas, eu abro os custos com a pessoa. Aí ela entende, porque eu mostrei cada dado”. Foi assim que ele fez com clientes grandes e pequenos. “Aconteceu de eu estar colocando uma máquina para o cliente, e ele querer de graça. Abri a tabela, mostrei que assim nós teríamos prejuízo. Falei: eu preciso ganhar dinheiro. Você também. Vamos conversar e chegar em um número que seja bom para mim e você considere justo. Eu estou aprendendo a ser isso. Sem enrolação. Ser firme”.
E para o futuro… quais os objetivos? “Estar livre para poder olhar para frente. É isso que eu quero. Que minha equipe não precise mais de mim, para eu poder estar livre para olhar para frente. E pensar: quais coisas bacanas que a gente pode ainda fazer?”. E ele conta que vê isso acontecendo em pequenos momentos. Como é para ele quando vê a equipe caminhando com independência? “Me sinto em paz”.