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Diário de Aprendiz de Garçonete

Minhas duas semanas aprendendo a servir, como equilibrar quase tudo em uma bandeja, e muita coisa dentro da minha própria cabeça

Cheguei de boa. Consegui um emprego num lugar tão bacana, ganhei mais um objetivo e sabia que ia aprender tanto! – suspiros. Sou estabanada? Sim, mas as pessoas sorriam e me recebiam bem. Eram só duas semanas servindo cafés e – pô, eu faço minha V60 – o que podia dar errado? Vou dar uma dica: Ma-ca-ron. Pequeno, indefeso, verde-pistache.

Quando você chega, vai para a boqueta da cozinha ou do bar. E eu cheguei, junior-sabe-de-nada-inocente, mas pensando: um macaron? Levo em um pé e volto no outro e… chegando na mesa do cliente: UÉ. Só eu, minha ‘rapidez’ e o pires. Onde eu tinha perdido o bendito? Era como se tivesse escrito na minha testa: perdedora de macarons. O tempo passando, dei meia volta e imagina voltar pra cozinha e dizer: então, você pode me dar outro macaron? É que o primeiro… sabe… o primeiro… e a porta da cozinha abriu: Achei! O que você derrubou estava embaixo de uma mesa. Já vou jogar fora. Leva lá o outro. Sorriso amarelo e bochecha vermelha. Mas isso é uma coisa que acontece, não é mesmo? Quem nunca perdeu um? Pois é, eu devo ter perdido uns dois ou três. Ô dia pra esse povo querer um negócio que eu não conseguia levar.

E quando fui pra casa fazer umas coisinhas, tipo escalda pés, lembrei do Rafa. A primeira coisa que não sai do pensamento é a planta dos seus pés. Depois vem a panturrilha e, em algum tempo você se habitua e anda 15 km por dia com tranquilidade. Ainda estou procurando um alento nisso. Por fim, nada melhor que um bom cochilo até o despertador tocar e já é dia seguinte. E em todos os dez dias, as vivências explodiram sobre mim, a cada minuto:

Fique de pé, mas não parada. Boqueta da cozinha. Sininho. Agora é do bar. Ristreto. Esse não, o outro. Você sabe a diferença entre cappuccino e latte? Você viu que tem bolo junto? Isso, agora pode decorar. Confere com o pessoal do bar. Viu a mesa? Se já tem água não precisa da levar a com gás. Leva o espresso primeiro. SEMPRE. Leva mais de um e já distribui nas mesas. Não esquece a água com gás. Pede GPS. Não demora pra levar o método. Você já fez french press? Isso, já vira a xícara, agora você e vai até ouvir o barulhinho. Pode voltar pra cozinha. São três pratos, você consegue levar? Deixa pra lá. Isso, chuta a porta porque as mãos vão estar ocupadas. Pede ajuda pra não nadar. Olhou o pão de queijo que eu deixei no forno? ‘Claro – que pão de queijo? ‘. O SININHO. Sobremesa primeiro. Que raio de mesa é 123? A 121 é na ventana. Você ainda não viu o mapa das cadeiras? Vai ajudar muito. Unidunitê a água com gás vai-pra-você!

Enfim, metade das coisas deu errado. A outra metade foi numa velocidade de 10km/hr. E aí vieram outras vozes: Você consegue, sim. Servir vinho? Eu te ensino. Te acompanho. Estou olhando. É assim mesmo. Ótimo! Você já está pegando o jeito, ein? Vai lá. Arrasa! Vamos quebrar tudo hoje? Não os pratos. É normal. Eu também fiz muito isso, viu? Teve uma vez que até fiz pior, vou te contar. Acho que você melhorou.

Teve feriado. Corri. Aprendi o que sugerir no cardápio. Fale com segurança e naturalidade, é isso que a pessoa quer ouvir, o Pedro me ensinou. Foi tudo bem, mas também foi tudo mal. “Thais! Você levou só a taça e serviu água nela?” É, eu levei a taça do vinho – sem vinho – e servi água nela. Não faz sentido nenhum agora, né? Imagina pro cliente que a Camila teve que me salvar. E sabe o que ela fez depois? Me ensinou como abrir uma garrafa de vinho, na maior tranquilidade.

Na linha de frente, cometi tantos erros que pensei Eu nem queria ter que aprender tanto assim ¬¬. E evolui tanto que dormia porque o corpo estava um bagaço, e a cabeça sem sossego. O garçom é um equilibrista, eu pensava. Mas a Jade me falou de outra maneira: “O garçom é uma esponja. Recebe tudo de peito aberto, na frente”. E o que eu vivi nestes 10 dias foi tudo que recebi dos clientes, cozinha, bar, garçons. Eu absorvi tudo, principalmente no início. Elogios e críticas, erros e aprendizados. Bons dias e a mais fria indiferença. E foi doloroso e intenso.

Com o que eu fiquei agora? Com clareza que não dá pra fugir quando se está na frente. Você encara e, sendo sincero, sabe o que pode absorver e o que precisa deixar sair. Ah, e com o sininho da cozinha!!! Em dez dias eu fiquei com ele na mente, depois disso sonhei com o sininho. Você vai ver que ele não espera. Nem o Cícero. Muito menos os aprendizados. Poros e peito aberto, cada minuto foi e, na verdade, é muito mais do que eu poderia supor.

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